Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
Algemira Dias da Mota Sousa e Juraci Ferreira de Souza (2011)
O QUINTAL DE DONA ALGEMIRA GARANTE O SUSTENTO DA FAMÍLIA
Dona Algemira Dias da Mota Sousa tem 61 anos, é piauiense e há 30 anos mora em Campo Alegre de Loures, na comunidade Velame da Malhada, que fica há 40 Km da cidade. Junto a seu esposo, Juraci Ferreira de Souza, 62 anos, cultivam em 6 hectares de terra na área que moram. O casal teve 12 filhos, mas perdeu três. Moram com eles três filhas que cuidam dos afazeres domésticos. Maria Aparecida é quem cuida das refeições e dos trabalhos artesanais que é mais uma fonte de renda para família. Clélia ajuda nos afazeres domésticos. A caçula ainda estuda e ajuda as irmãs e a mãe na roça na época da colheita. Os demais filhos casaram e estão espalhados. Uns em são Paulo, outros no Piauí e em Campo Alegre de Lourdes.
Ela conta que, desde a primeira visita do SASOP, em 1998, não fazem mais queimadas no roçado e valorizam cada folha que cai, pois hoje têm a compreensão da riqueza que está na natureza e o quanto fortalece a sua plantação.
Da cana se faz ração e comercializa a garapa
Ela e a o esposo planta milho, feijão, mandioca, abóbora, gergelim, sorgo, cana, banana, manga, goiaba, acerola, limão, mamão, siriguela, abacaxi, caju, verduras, plantas medicinais, além de palma consorciada com leucena. Logo no início, houve momentos de dificuldades para manter as fruteiras, pegavam água longe. Com garrafas pet fizeram o processo de gotejo nas plantas e, mesmo assim, morreram alguns pés de laranja.
Dona Algemira conta que no começo a cana era plantada para dar ração aos animais. Só que ao moer observou que poderia vender caldo. Como não dava para pagar uma pessoa, ela entrou em acordo de meeiro, ou seja, o caldo que é vendido se divide ao meio entre ela e a pessoa. A garapa é armazenadas em garrafas pet e guardadas na geladeira para conservar e não ficar ácida. Na geladeira ficam no máximo por três dias. O valor varia. O litro sai a 2 reais quando vendido direto ao consumidor, mas para o comerciante que faz a venda a varejo, passa por 1 real. Não sabe quantos litros vende por mês, mas de 8 em 8 dias vende 12 litros, portanto, a medida são 48 litros ao mês. Vibra com sua idéia que contribuiu na renda familiar, além de estar evitando o desperdício.
A água para consumo humano a família usa da cisterna, que foi uma das primeiras a ser sorteada pelo SASOP na região. Tratam com cloro e filtram a água de beber. A água do barreiro que fica próximo ao quintal é para uso geral. Lavar roupa, tomar banho, molhar as fruteiras e verduras. E para diminuir o trabalho colocaram uma bomba para puxar a água, através de uma mangueira, que vai até ao quintal da casa e área das fruteiras. Esta idéia foi trazida por seu filho que mora no Piauí.
Em 2008, por conta do rompimento do canal que enche a lagoa que abastece o barreiro, a bomba não funcionou durante a seca, tiveram que buscar água na barragem Baixão Velho para as plantas, serviços doméstico. Os animais de toda comunidade bebem água no mesmo local.
Frutas e legumes aumentam a renda familiar
Na época da goiaba Dona Algemira diz vender muito, 12 unidades por 1 real, que corresponde a 1 quilo. Com as bananas faz doce, pois a banana de água é a melhor para cozinhar. Desde o início sempre vendeu muitas verduras na Malhada e redondeza. O que mais vendia era alface, coentro, pimentão, couve, pimenta, beterraba e repolho. Atualmente os canteiros só dão para consumo da família. Também tem hortelã, capim santo, alecrim, arruda e confrei.
Uma outra renda da família é com a venda da castanha de caju. Em 2008 vendeu a 80 centavos o quilo. Mas a polpa é ainda quase toda desperdiçada. Na próxima safra, de setembro a dezembro, vai experimentar fazer suco para vender, já que não vai ter cana nesse período. Em 2009 deu muita abóbora, mas como o valor estava muito baixo, usou somente para consumo da família, nas refeições e na produção caseira de doces e bolos. Serviu de alimento para os porcos e também foi doada para os vizinhos.
O sonho de Dona Algemira é ter uma cisterna de produção de 52 mil litros para poder cuidar melhor dos seus canteiros e fruteiras. Mesmo com toda a dificuldade, o que tem é o que garante uma alimentação nutritiva, melhor saúde e aumento na renda de sua família. O que economiza nas verduras complementa na compra de outros alimentos.