Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
Silva Tânia e a sua atuação na Rede de Mulheres (2011)
A experiência de Silva Tânia Rosa é um reflexo da atuação da Rede de Mulheres nas comunidades, junto aos seus parceiros, no município de Remanso. Tânia, como é conhecida, tem 27 anos e mora na comunidade Lagoa do Garrote, a 52 quilômetros da sede de Remanso, cidade situada ao norte da Bahia e que faz parte da Borda do Lago de Sobradinho.
A hidroelétrica de Sobradinho foi construída na década de 70, no Submédio do Rio São Francisco, pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF). Os moradores contam que foi um dos maiores impactos ambientais desumanos já registrados na região. As famílias, somando mais de 70 mil pessoas, foram realocadas a sete quilômetros da antiga cidade. Em nome do desenvolvimento, a CHESF afogou quatro cidades nas águas de Sobradinho: Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado, além de distritos, sítios e povoados.
A agricultora vive com seu esposo Gilvan e as suas filhas Jéssica, de 8 anos, Bianca, de 4 anos e Dominique, com 1 ano e 4 meses. O trabalho principal da família é a agricultura. Ela e o esposo cultivam feijão, mandioca, milho, abóbora e melancia para o consumo da família. A renda vem com a venda de animais, como cabra, ovelha e galinha, e do benefício Bolsa Família. As maiores dificuldades encontradas se dão no período da seca por falta de alimento e água para os animais. Nesta época, os animais se alimentam de mandacaru e xique-xique e, muitas vezes, acabam se machucando com os espinhos. Outra dificuldade é manter os pintos vivos quando nascem, porque são frágeis, e, quando crescem, ainda tem que enfrentar a falta de mercado com um preço adequado.
Tânia relata que aprendeu a criar galinha e cabra com seus pais. Com a Rede de Mulheres e o SASOP, aprendeu a melhorar os cuidados com os canteiros, a alimentação das crianças e o uso de remédios naturais para a criação. Aprendeu também a criar as galinhas presas e melhorar a alimentação, fazendo a ração balanceada que até então não sabia. Do projeto de fundo rotativo recebeu 30 pintos e, hoje, aguarda o melhor momento para fazer o repasse para outra família com a mesma quantidade que recebeu. A agricultora já participou de diversas capacitações, onde recebeu todas as orientações para a criação e manejo.
Depois que casou continuou a criar animais. É um trabalho que gosta muito de fazer, além de gerar renda para a família. As cabras que cria não são do projeto de fundo rotativo, mas conta com satisfação que recebeu do projeto material para a construção do galinheiro e diz que nunca tinha ouvido falar que galinha tem que ter local coberto para dormir. Sempre criava ao relento, pelas árvores do quintal. Hoje compreende que os animais precisam de proteção para não pegar doenças pulmonares com a friagem e se livrar dos predadores. Lembra que quando as galinhas bicavam os ovos para comer, os mais velhos queimavam ou cortavam a ponta do bico. Foi quando aprendeu nas formações do SASOP que isso acontece porque estão sentindo falta de cálcio. “Hoje, uso as cascas dos ovos que são consumidos pela família na ração balanceada”, conta.
Alimentação mais rica e saudável
Para Tânia, o Projeto fez diferença na alimentação da família. “Antes eu comprava frango congelado na cidade porque era mais barato. Com o dinheiro de uma galinha, comprava três frangos e ainda achava que as galinhas do terreiro eram sujas, porque viviam soltas no quintal, e as da cidade, congeladas, é que eram limpas”, relembra. Com as orientações da Rede e do SASOP, a família passou a se alimentar com as galinhas do próprio quintal, as frutas e as verduras que produz e, dessa forma, melhorou a saúde de todos. “As crianças não ficam mais gripadas com a freqüência de antes e foi possível combater a verminose que era grande.”, aponta a agricultura.
A renda aumentou. Antes vendia uma dúzia de ovos entre 50 centavos a 1 real. Hoje já dá pra vender por 2 ou 3 reais. Emocionada, diz que, com esse projeto, tem uma alimentação mais saudável e garante complementação da renda para a família. Com esse dinheiro dá para comprar ração, remédio para os animais e alimentos que não produz na roça.
A Rede de Mulheres, em parceria com o SASOP e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, tem um papel muito importante na implantação desse projeto e de tudo que é feito na comunidade, seja com a criação de galinha, abelha, cabra, e construção de cisternas que possibilitam a plantação de frutas e verduras, como também o acompanhamento das famílias da comunidade. Do canteiro já colheu coentro, cebolinha, beterraba, cenoura, berinjela, tomate, pimentão e couve. “Não tem coisa mais linda do que a cisterna. Muitas doenças como infecção urinária, verminose, diarréia que se tinha antes, não existem mais”, revela Tânia, que sempre trata a água com cloro que a agente comunitária de saúde distribui.