Maria das Graças Gomes de Almeida e Ranulfo Lopes de Almeida (Caprinos, 2012)

DONA GRACINHA E SUA DEDICAÇÃO AOS CAPRINOS

Desde menina, Maria das Graças Gomes de Almeida, conhecida como Dona Gracinha, gostava de cuidar de bodes e cabras. Assim que casou aos 17 anos com seu Ranulfo Lopes de Almeida começou a se dedicar a criação. No início, além dos seus, cuidava também dos animais de outras pessoas. Um dia resolveu entregar a responsabilidade aos donos para poder cuidar apenas dos seus animais. Dona Gracinha mora com sua família no Sítio do Girau, Fazenda São Bento, a 22 Km da sede do município de Remanso (BA). É mãe de três filhos: Reginaldo, Ronaldo e Renilde. Atualmente tem dois netos e três netas.

Ao longo de mais de 30 anos, Dona Gracinha foi adquirindo habilidades e construindo aprendizados. Quando vai chiqueiro sempre leva sua maleta de medicamentos veterinários e remédios caseiros, além de instrumentos para lhe auxiliar nos partos, corte de umbigos, castração, aplicação de vacinas de remédios. Para castrar os cabritos e bodes com segurança, usa a técnica do “burdizzo”. Diz que é bem menos sofrido para o animal, pois não e não fere a pele e não oferece perigo de hemorragia. Faz um preparo com as ervas aroeira, umburana de boi, jurema preta, jacurutu e ameixa misturadas ao álcool, que chama de ungüento para usar durante os dias de cuidados quando faz parto, corte umbilical e nos mesmo nos ferimentos. O pó da casca de ameixa completa a lista dos antiinflamatórios e bactericidas utilizados.

Dona Gracinha acorda antes das cinco horas da manhã e, na época da seca, fica até às nove da noite dando comida aos animais. No inverno, faz estocagem de alimento para passar a estiagem com mais tranqüilidade. A leucena e a maniva é a maior parte do feno. Para diversificar a forragem tem plantado gliricídia, capim faixa branca, sorgo, andu, melancia de cavala, além da palma.

A agricultora e criadora conta que, certo dia, um técnico falou sobre a importância de fazer sua própria ração e, para isso, teria que aumentar sua plantação de palma e consorciar com leucena. Assim experimentou e hoje tem uma grande área um hectare e meio. A partir daí começou a usar esterco dos chiqueiros na plantação que é um adubo natural e afirma que o resultado é animador.

Dona Gracinha gosta de testar tudo o que as pessoas lhe dizem, ouve no rádio ou lê em folhetos. Diz que não adianta ir para as reuniões e não colocar em prática. A máquina forrageira tem sido o braço direito da família. Para reforçar a alimentação dos animais, passa palma verde na forrageira e mistura ao silo ou feno. O mesmo processo faz com o mandacaru ao substituir a palma. Em 2011 conseguiu fazer, além do que já produzia, 06 tambores de silo e mais 8 metros de silo subterrâneo. Ou seja, já tem ração para o próximo ano.

Para ajudar a aumentar o leite das cabras que dão cria, Dona Gracinha dá maniva seca triturada e misturada na torta de algodão ou no farelo de trigo. Deixa de molho e depois distribui. A raiz da mandioca também é bem aproveitada. Primeiro lava para limpar a terra e depois passa na forrageira. Espreme para tirar a tapioca e mistura a massa com farelo para os animais. A tapioca é usada pela família para fazer mingau, bolo e beiju.

Assim que começou a cuidar do seu próprio criatório realizou o sonho de fazer queijos para comercializar. Vender somente o leite não valia à pena. E deixá-lo sem nenhuma função seria desperdício, principalmente, no inverno quando a quantidade de leite aumenta. Com a venda dos queijos, Dona Gracinha garante recursos para suas despesas com a criação, que vão desde a ração de farelo de trigo, medicamentos, luvas, produtos para fazer o queijo, pagamento do trabalhador que ajuda na roça, ao carreto que leva o queijo para a feira, restando ainda um pequeno lucro.

A cisterna de produção-calçadão chegou nesse ano, 2011. Já pegou água nas primeiras chuvas de outubro, e dona Gracinha diz que os seus planos é plantar apenas fruteira, pois já planta horta no caldeirão e se preocupa com o controle da água para não faltar. Inclusive, armazena água da chuva em garrafas pet formando uma parede d’água que conseguiu a 1.500 litros. Diz que muito lhe serve no período da seca para a  criação de galinhas, molhar as plantas, tomar banho e até lavar roupa.

De domingo a domingo, além de outros afazeres com a criação animal, a labuta é fazer queijo. Na época do inverno, produz uma média de 10 queijos por dia. Para cada queijo usa quatro litros e meio de leite. Vende na feira e para compradores diretos.  Na época da estiagem faz em média de 06 queijos por dia. Para sustentar a freguesia, chega a comprar leite da vizinhança. Para garantir um queijo com mais qualidade trocou a forma de madeira pela de pvc, artesanalmente produzida pelo seu esposo Ranulfo.

O soro do queijo é misturado com forragem e vira alimento para os animais, principalmente para os porcos. O lema de Dona Gracinha é que nada se joga fora, tudo se aproveita. A expectativa de Dona Gracinha atualmente é a construção de uma sala de ordenha em parceria com o SASOP, e tem a esperança de conseguir um aprisco.

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