Manoel Leite e Delzuita Félix Ribeiro (2014)

 

Manoel Leite e família, uma experiência para além do quintal produtivo

 família na cisterna produç_o3

A família de Manoel Leite mora na comunidade Intendência, município de Pilão Arcado, a 70quilômetros da cidade. Seu Manoel tem 51 anos,é diretor da Associação de Fundo de Pasto da Comunidade e tesoureiro da União das Associações de Fundo de Pastodo município. A sua esposa,Delzuíta Félix Ribeiro, conhecida como Deusa,tem 46 anos. Possuem 7 filhos: Silvino Neto, Maestra, Maria Ilka, Lília, Débora Luzia, Edna e Arles. Os dois filhos mais velhos residem em São Paulo. Os dois menores, Edna, 14 anos, e Arles, 10 anos, moram com eles. Tem ainda 3 netos, Yuri Gabriel, Samara Bianca e Samira. A sobrinha Carla Bianca, 12 anos, sempre está junto à família.

No terreiro da casa, embaixo de um pé de Nim, tem bancos fixos de madeira, onde as reuniões acontecem. Dona Delzuíta mantém um pote com água fresquinha para os participantes se servirem. Em frente, passa a BA 161 que corta toda região de fundo de pasto e liga Pilão Arcado a BR 020 – Fortaleza e Brasília, economizando rota para São Paulo. Isso faz com que seja movimentada e, embora a maior parte desse trecho não tenha asfalto, facilita entrada e escoamento de todo tipo de mercadoria.

Seu Manoel garante que a cisterna de bica já fazia a diferença na saúde e no dia a dia da família. Com a chegada da cisterna de produção calçadão, em 2009, as conquistas se ampliaram. No ano de 2010, a seca assolou em toda região e se prolongou até início de 2014. Morreram muitas fruteiras, como pé de mamão, banana, goiaba, seriguela, entre outros. Os que conseguiram salvar foi com a água da cisterna. Os pés de mandioca e alguns de leucena também morreram nesse período. A farinha que a família tem consumido vem da região da vazante, beira do rio. Atualmente, o quintal está verde por conta da água da cisterna e das chuvas desse ano, que ainda tem mantido toda a caatinga verdosa. Delzuíta conta que a cobertura seca feita com restos de palhas, folhas e bagaço de milho é o que também tem ajudado a manter a umidade das plantas e isso aprendeu nas capacitações com os técnicos do SASOP.

Para Manoel Leite, o barreiro de trincheira, construído em 2012,tem servido principalmente aos animais e aos canteiros que ficam próximos à roça. O mutirão para armazenamento de forragem é outra prática que tem contribuído para a convivência com o período de estiagem, o que tem diminuído sensivelmente a perda animal. Conta ainda, que o feno foi produzido com andu e palma e, em 2009, fizeram 6 toneladas de silo a base de milho sorgo e gliricídia.

molhando canteiros2Dona Deusa diz que o excedente das verduras, frutas, requeijão, manteiga de garrafa ou da terra, ovos e mel são comercializados nas feiras do Povoado Lagoa do Padre e do município de Campo Alegre de Lourdes. Com a entrada desse recurso, compra outros produtos que não tem na propriedade, como óleo, café, açúcar, macarrão, sal e a massa de milho. A segurança alimentar e a auto sustentabilidade estão presentes às refeições da família, pois é consumido da produção local, o feijão de corda, arroz, abóbora, melancia, leite, requeijão, manteiga,carnes de carneiro, porco e galinha capoeira, ovos, verduras, feijão andu, pimenta usada ao soro do leite, frutas e o mel que adoça os sucos e o café. A família já compreende que a diversidade de alimentos é a garantia de sua saúde. Arles é o filho caçula e ele diz que é feliz na comunidade que mora, porque tem liberdade para viver e criar os animais. Ele tem uma forma carinhosa de chamar os seus bodes e cabritos, “meus budim”.

Numa área de baixada da roça é plantado o arrozal. É uma tradição familiar da região de Pilão Arcado. Seu Manoel Leite já plantava com seu pai desde menino. Somente em  2012 que não conseguiu plantar por conta da seca. Esse ano já está colhendo novamente. Quem pila o arroz é Dona Delzuíta, geralmente, no fim da tarde. Para ela não passa a ideia do trabalho e, sim, do alimento para a família. Cada vez que soca no pilão caem palhas de arroz trituradas ao chão, que é uma forma de alimentar a sua criação de galinhas e pintos, que ampliou junto ao Caráter Produtivo da Cisterna Calçadão.

Uma das coisas que mudou sensivelmente na comunidade, nesses últimos 6 anos, com a chegada do P1+2, confirmam Seu Manoel Leite e Dona Delzuíta, foi o aumento do acúmulo de água de chuva através das cisternas e barreiro, a diversidade e qualidade na alimentação e na saúde. Contam que, antigamente, os camelôs de verduras e frutas passavam vendendo e todo mundo comprava sem ter nenhuma informação de onde vinha. Hoje não se vê mais esses camelôs. Além disso, hoje eles tem tempo para se dedicar a outros trabalhos, principalmente, o da União das Associações de Fundo de Pasto do município. A União está preparando um trabalho de sensibilização em toda região de fundo de pasto do município para garantir a certificação das áreas, através da Lei Estadual nº 12.910, criada em 2013, e que tem o objetivo de reconhecer e certificar todas as comunidades tradicionais e quilombolas até o final do ano de 2018.

Manoel Leite explica que fundo de pasto é uma reserva da caatinga preservada desde os seus antepassados e, que todos moradores usufruem de forma coletiva, pois é onde se cria os animais de todos os portes, inclusive a abelha. Reforça que o fundo de pasto é uma fonte rica de alimento e de plantas medicinais para os animais e para as pessoas. Existe uma diversidade de espécies, como Aroeira Branca e Vermelha, Caatingueira, Umburana, Quipé, Angico, Ameixa, Jatobá, Pau Ferro, Jurema, Umbuzeiro, que é fonte de alimento e renda para as famílias, além das plantas rasteiras e de rama.

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