Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
Maria Leite (Maria das Graças Florêncio dos Santos) e Domingos Ângelo dos Santos (2014)
Maria das Graças Florêncio dos Santos, também conhecida como Maria Leite, e Domingos Ângelo dos Santos são casados há 40 anos, tiveram sete filhos e muitos netos. Até onde conseguem contar, somam 29 netos. Os dois tem a mesma idade. Nasceram em 1951 e moravam na comunidade do Lameiro, no município de Camamu, Território do Baixo Sul da Bahia. Com a herança deixada pelo pai, Seu Domingos conseguiu comprar um pedaço de terra no Barroso, comunidade remanescente de quilombo, e decidiram se mudar. Construíram uma casa e começaram a trabalhar na propriedade.
O agricultor conta que o terreno da família no Lameiro tem 25 hectares para dividir entre cinco irmãos. Em dois hectares desses 25, eles já plantaram cacau, cravo, laranja, banana, jaca, limão, carambola, cupuaçu, piaçava, café, pupunha e jabuticaba. Na propriedade onde moram tem cacau, cravo e um quintal com hortaliças e criação de galinhas e porco. Dona Maria Leite diz que quase tudo que plantam é para o consumo da família. Vendem apenas o cacau e o cravo, de onde tiram a renda. Dona Maria Leite conta que parou de vender na feira pela dificuldade de transporte e da estrada ruim. Já participaram do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal, e planejam elaborar um novo projeto para continuar a venda para o PAA.
Com recursos do Fundo Rotativo Solidário, Maria Leite e Domingos construíram um galinheiro e investiram no quintal. Eles contam que antes criavam as galinhas soltas e perdiam muitos animais. Agora já não compram verduras, tempero-verde, galinha e ovos no mercado. Para Seu Domingos, é uma economia muito grande. “Deixamos de comprar ovo e essa galinha gelada que vende no mercado. A agroecologia é uma bênção para o agricultor”, afirma Seu Domingos.
O casal afirma que usava agrotóxico para o controle de insetos antes de ser acompanhado pelo SASOP. Seu Domingos lembra que usava muito veneno na fazenda onde trabalhava e diz que já chegou a passar cinco meses colocando veneno nas plantações, mas, na sua roça, sempre evitou o uso de agrotóxico. Diz que sempre preferiu fazer o manejo com as ferramentas adequadas. Para adubar a terra, aproveitam o esterco de galinha e de bode. Dona Maria Leite afirma que o esterco tem dado resultado. Depois que colocou na plantação de tomate, a produção aumentou bastante. “Esterco de galinha, adubo melhor não tem. A quantidade de tomate miúdo foi tão grande, que fiz extrato de tomate para não perder.”, conta. Para o futuro, o casal tem planos de aumentar a produção de verduras.
As plantas medicinais, segundo a agricultora, não podem faltar. Ela cultiva arruda, alevante, palma, erva-doce e raramente vai à farmácia. Com sorriso no rosto, Dona Leite conta ainda que é parteira na comunidade e já perdeu a conta de quantas crianças trouxe ao mundo. Seu Domingos lembra que ela já ficava com a mala pronta e já sabia quando chegava a hora de alguma mulher dar à luz na comunidade. A maioria dos netos foi Dona Leite quem fez o parto. “Quando batiam na porta de madrugada, debaixo de chuva, já sabia que era para buscar ela. Antes de chamar, ela já aparecia com a mala pronta na mão”, lembra Seu Domingos.