AMOMA – Associação dos Moradores do Marcos (2016)

Beneficiamento de frutas promove geração de renda e aprendizados

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Era início da tarde quando Priscila, Carla, Obdúlia, Rosanice, Maria das Dores, Maria do Rosário, Mônica, Gilmara, Ana Amélia, Edilmara, Ana Angélica, Edineide, Paloma, Aparecida, Ione, Valdete, Henrique, Igor, Luzia, Sergina, Carmen Silvia, Ana Paula, começaram a contar a história do grupo de beneficiamento da AMOMA, Associação dos Moradores do Marcos, em Remanso. Tudo começou, em 2004, quando Zidália, uma professora aposentada, se mudou do Rio de Janeiro para Remanso e comprou alguns terrenos na Comunidade do Marcos com o objetivo de fundar uma escola. O local já possuía duas escolas e Zidália percebeu que as mulheres da comunidade não desenvolviam atividades de geração de renda. Daí surgiu a ideia de reuni-las para trabalhar com o beneficiamento do umbu, fruta nativa da região.

Sem equipamentos, nem infraestrutura, a comunidade iniciou de forma coletiva a busca por doações. Saíram pelo comércio da cidade pedindo panelas, baldes, fogão, e fizeram um pedágio na pista para pedir apoio. Com a união das associações de Salinas Grande, Major, Marcos, Xique-Xique, Assentamento Canaã e Salina do Brejo conseguiram uma suqueira. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) cedeu uma pequena sala e o grupo começou a trabalhar. O apoio do SASOP contribuiu para participação das mulheres em cursos, intercâmbios e elaboração de projetos.

Eram dez mulheres produzindo polpa, doce e compota de umbu. Em 2005, conseguiram aprovar um projeto financiado pela Fundação Banco do Brasil e, com o dinheiro, construíram a unidade de beneficiamento na comunidade, num terreno doado por Zidália.

O grupo conta que o início era muito difícil. Peneiravam mais de 20 bacias de umbu e ficavam até tarde da noite trabalhando. Hoje, com a despolpadeira, ficou mais fácil. Passaram a beneficiar outras frutas, como manga, goiaba, maracujá, umbu, acerola, jenipapo e também a mandioca, na produção de sequilhos. Os grupos estão organizados em três subgrupos, que trabalham em dias diferentes. Até 2010, quando os grupos de Salinas Grande e Xique-Xique produziam semanalmente, trabalhavam em torno de 50 pessoas na unidade de beneficiamento, sendo 95 % de mulheres. Agora, outros grupos estão produzindo em suas comunidades. No espaço, convivem duas gerações, mãe e filha, como Dona Maria das Dores, mãe de Mônica. Para Mônica, essa foi a oportunidade do primeiro emprego.

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Passo a passo da produção

A produção começa ainda do lado de fora da unidade de beneficiamento, com a seleção das frutas, mas, antes disso, é necessário tomar banho, vestir o uniforme, colocar touca, máscara, botas, luvas e não portar nenhum tipo de objeto, como bijuterias, celulares, entre outros. Devidamente uniformizadas, Sergina Marques da Silva conta que as frutas ruins são excluídas, ficando somente as de qualidade. Passam por duas lavagens e, depois, são transferidas para a sala de produção. As frutas utilizadas para fazer compota são colocadas no vidro junto com a calda de açúcar e depois levadas ao banho-maria. As utilizadas para a produção da polpa são cozidas, separando a fruta da água que vai ser usada na produção da geleia.

O segredo da produção da geleia de umbu é que, além de ingredientes como a polpa, açúcar e água, também é colocado o concentrado do limão, que possui uma substância chamada pequitina e serve para conservar o produto por mais tempo. Outra técnica aprendida é a de armazenamento do suco. Depois da fruta cozinhar, por uma hora e meia, ela é separada do suco no equipamento chamado suqueira e engarrafado e posto de cabeça para baixo para a que a pressão do líquido quente não estoure a tampa. A fase final é a etapa de rotulação, feita por elas mesmas.

 

Trocas de saberes e aprendizados

Dona das Dores conta que, através de conversas no sindicato, conheceu Dona Janete, do Assentamento Canaã, que passou a técnica da geleia de goiaba. Outro aprendizado foi o trabalho com a caldeira e o manuseio dos tachos, durante o curso de caldeireiro realizado pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), realizado em Uauá, onde visitaram mini-fábricas de beneficiamento de frutas e aprimoraram a produção dos doces.

Em 2011, participaram, com apoio do SASOP, de uma formação sobre gestão, planejamento estratégico e plano de negócio com o Centro de Assessoria a Microempreendimentos (CAM). Em 2013, o grupo conseguiu, pela primeira vez, acessar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e vender para a Prefeitura de Remanso. Obdúlia Neves da Silva fala que os espaços de comercialização nas feiras também são muito importantes porque contribuem para a divulgação dos produtos. Para elas, a fábrica possibilitou não só o aumento da renda, mas também muitas trocas de saberes e aprendizados.