João Cícero Justiniano de Souza (2013)

Foto: Programa Semear/Manuela Cavadas
Cícero e Francisca na Horta

Cícero da Barra é referência na criação de caprinos como uma das alternativas na Convivência com o Semiárido

A Caprinovinocultura possui forte identidade com o sertão, com a cultura nordestina e com a agricultura familiar. O desafio é aproveitar todo o potencial existente e garantir desenvolvimento em bases sustentáveis. Para isso, algumas estratégias são necessárias, como o controle sanitário de verminoses e higiene nas instalações, o melhor aproveitamento da pastagem nativa e a introdução de culturas forrageiras adaptadas como a leucena, palma forrageira, gliricídia e feijão guandu para produção de silagem e fenos de qualidade a baixos custos. Outra medida importante é o armazenamento do alimento para os animais para uso no período de estiagem.

Uma especificidade da região semiárida baiana são os “Fundos de Pasto”, utilizados por grande parte das famílias agricultoras da região. Nesse sistema, as famílias fazem o uso compartilhado das pastagens, de forma tradicional, articulada com sua própria forma de viver e fazer a gestão do uso da terra e dos recursos disponíveis. A caprinovinocultura tem se consolidado como referência na região semiárida do Sertão da Bahia e vem se concretizando com uma produção agroecológica mais apropriada para gerar crescimento econômico e benefícios sociais.

Um exemplo de manejo sustentável dos recursos locais para a criação de caprinos é do João Cícero Justiniano de Souza, no município de Remanso, Bahia. Atualmente, na área de Fundo de Pasto, Cícero tem uma diversidade de plantas apropriadas ao semiárido, com os quais faz feno, silo, raspa e mantém um banco de proteínas. A partir do terceiro mês de vida, as fêmeas recebem uma alimentação balanceada, o que garante que na fase adulta, proverão crias sadias e de forma precoce, como ocorre em muitos casos. Cícero é o presidente da Associação de Fundo de Pasto dos Pequenos Produtores do Sítio Barra e faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remanso (STR).

Tudo começou em 1997 quando o sindicato lhe convidou a participar de um curso de formação de agricultores para a convivência com o semiárido, onde conheceu várias plantas apropriadas ao clima. Uma delas foi a leucena. Aprendeu a fazer o feno e o silo, trouxe sementes e, assim que chegou, plantou em frente a sua casa para experimentar. Hoje são 80 pés de leucena plantados para garantir a produção do feno. Antes os animais só se alimentavam com palma ou capim verde, pois não conheciam o processo de fenação e silagem. Depois do curso, Cícero e sua esposa Francisca mantem um banco de proteínas com glicerídea, leucena, sabiá, maniçoba, mandioca, entre outras, como forma de garantir para os animais uma alimentação nutritiva. Desde 2008, guardam passado um silo de capim para usar num momento de necessidade. O capim é bem aproveitado. Uma tarefa, que são 25 braças, equivalente a 3.025 metros quadrados, ele faz três cortes durante o ano. Dois deles, no inverno para fenar e durante a seca alimentar os animais, e outro corte para passar na forrageira e dar direto aos animais. Dessa forma, aumenta a produtividade.

Cicero trouxe semente de gliricídia de uma visita de intercâmbio na Paraíba e, atualmente, já são 30 pés plantados. Ele conta que os animais não gostam de comer ela verde, só fenada. Futuramente pensa fazer cerca viva com a gliricídia, pois é fácil nascer de semente. E diz que a madeira dela é certa e já cortou para fazer galinheiro. Lembra que o importante é cultivar plantas que convivem bem com o Semiárido. A área da caatinga de fundo de pasto é de 860 hectares. Desses, foram cercados 200 hectares para garantir a preservação. Cícero diz que sempre preservou a caatinga porque foi um ensinamento do seu pai, embora nas roças tenham feito queimadas para plantar. No fundo de pasto são mais de 30 espécies de plantas nativas. Como práticas preventivas de doenças, Cícero, além de manter uma boa alimentação, faz a limpeza nos bebedouros, fornece sal mineral, assim que o cabrito nasce amarra o umbigo e o queima com iodo. Reserva um local apropriado, o aprisco, onde cria seu rebanho com higiene e saúde, e o protege da chuva. Faz o controle de verminose e piolhos, deixando os animais presos por um dia, e procedendo com a limpeza do aprisco e aplicação de medicamentos no dia seguinte.

Para um resultado mais eficaz, e dentro da dimensão sócio-organizativa da localidade, Cícero agenda as datas, duas vezes ao ano, com toda comunidade. Geralmente faz no início do inverno e da estiagem. Cícero também alerta para a importância do fundo de pasto no desenvolvimento da criação, pois há outros alimentos complementares, que os animais não encontram nos arredores do chiqueiro, e muito contribui para o enriquecimento alimentar. Entre os meses de agosto e novembro, por ocasião da estiagem, fornece a ração que foi armazenada na forma de feno ou ensilagem.