Edneide Brito do Nascimento e Alvino Borges do Nascimento (2017)

 

 

 

 

 

Edneide e Alvino dão exemplo de convivência com o Semiárido em Pilão Arcado

 

Na comunidade Tamanduá, em Pilão Arcado, Edneide Brito do Nascimento e Alvino Borges do Nascimento dão o exemplo de convivência com o Semiárido. Em plena estiagem de seis anos, conseguem garantir a segurança alimentar da família e a alimentação dos animais, graças às pequenas infraestruturas na propriedade. A área em que moram foi doada pelo pai de Alvino, que dividiu a sua terra em partes iguais para os filhos. A família possui uma cisterna de consumo humano e uma de produção, além do barreiro que é onde os animais bebem água. O casal possui quatro filhos: Lidiane, nascida em 1992, Alan, em 1994, Darlei, em 1996, e Bianca, em 1998., além de dois netinhos, filhos da Bianca.

Alvino já morava na comunidade mesmo antes deles casarem em 1992, já que a terra pertence à sua família há muitos anos. A primeira roça que fizeram juntos ainda foi na área próxima a casa dos pais de Alvino. Também já criavam caprinos e galinhas, mas tudo de forma coletiva com a família de Alvino. Eles contam que, naquele tempo, mesmo nos períodos de estiagem, o que se plantava, dava. “O solo era mais rico, as pessoas não usavam tantos químicos para estragar a natureza. A gente esperava a chuva e ela vinha”, diz Alvino. O agricultor lembra que foi trabalhando com a carroça e com o jumento que conseguiu criar os filhos. Sempre trabalhou de tudo. É pedreiro, carpinteiro, agricultor. O que precisar, ele faz.

Edneide afirma que, apesar da plantação ser boa, essa época era muito mais difícil porque as aguadas eram poucas. “A gente não tinha a facilidade que tem hoje. Tinha de sair de madrugada e andar até três quilômetros para pegar água da cacimba, que ainda era salgada, ruim de beber, mas era a que a gente tinha”, lembra. Com os filhos ainda crianças, ela não saía de casa para participar das reuniões da Paróquia com as outras mulheres. Escola boa para os filhos, só para quem podia pagar.

Em 1998, eles começaram a se envolver em ações na comunidade para melhorar a qualidade de vida. A construção de um terreiro de raspa coletivo, com apoio da Paróquia do município, foi o marco desse ano porque proporcionou capacitações de pedreiro e trouxe ainda a primeira cisterna para a comunidade. Edneide diz que, com o terreiro, aprenderam como aproveitar melhor a mandioca. “A vida começou a melhorar. Antes a gente só fazia farinha e tapioca, jogava o resto fora. Hoje a gente sabe que serve para os animais comerem”, explica.

Dois anos depois, tiveram a ideia de separar seus animais e o cultivo da roça, no lote onde logo construiriam a casa em que moram hoje. A agricultora afirma que primeiro era importante terem a roça para que, quando terminassem a casa, terem alimentos disponíveis para colher. A primeira cisterna da família, já na casa nova, veio em 2005 com apoio do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município. Foi o momento em que, com os filhos mais cres- cidos e estudando, Edneide passou a participar mais ativamente das reuniões da Paróquia, vindo a se tornar animadora do grupo em 2006.

A atuação do SASOP na comunidade começou em 2011 com a construção da cisterna calçadão para produção de alimentos. Foi aí que eles passaram a receber também acompanhamen- to e formação para melhorar os quintais e fazer os canteiros com hortaliças, frutas, verduras, legumes. “O SASOP chegou e colocou todo mundo para trabalhar. Antes a gente só se preocupava plantar em feijão, abóbora, mandioca e milho e esquecia da comida das cabras”, diz Edneide mostrando a diversidade de alimentos que tem hoje para a família e a plantação de forrageiras para alimentação dos animais.

Eles recordam que, a cada visita, o SASOP trazia novos assuntos. “A gente nem conhecia a gliricídia. Muitos só chegam e falam. O SASOP chega e bota todo mundo para a prática. Incentiva a gente a fazer. Estimula nossa vontade. A gente jogava fora a maniçoba, mandioca brava e, tudo isso, sabemos hoje que é alimento para os bichos. Hoje a gente tem quintal e tem caatinga”, comemora Alvino.

Aproveitando que as mulheres já se reuniam na Paróquia, o SASOP propôs que o grupo se organizasse em torno de uma atividade produtiva. A atividade escolhida por elas foi a criação de cabras de leite. Assim, o grupo começou com 10 cabras e um reprodutor, além dos materiais para a construção de um aprisco. Hoje, das 10 mulheres do grupo, quatro continuam na ativa, mas todas aprenderam a fazer queijos de cabra e outros derivados do leite. Edneide conta que tiveram ainda formação em beneficiamento de umbu para fazer polpa, doce, geleia e compotas, partici- param de intercâmbios e fizeram também um curso sobre sementes crioulas.