Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
Comunidade participa de oficina sobre manejo agroecológico do solo
Uma sociedade saudável se constroi através de uma produção de alimentos de forma limpa e também saudável, além de vários outros fatores. Esta produção por sua vez depende de solos férteis, ricos em matéria orgânica e microrganismos, o que se pode conseguir através de um manejo agroecológico, com práticas que busquem cada vez mais propagar a vida no solo. Considerando que os solos são organismos vivos e de contínua interação com a produção de alimentos e a criação de animais, podemos desconstruir a ideia propagada pela agricultura convencional e de grande escala, que considera os solos apenas como um local inerte, base de sustentação para as plantas, onde devemos acrescentar os nutrientes necessários de forma química através de adubos e fertilizantes e, assim, garantir a produção.
Esse modelo tem se mostrado ineficaz e vêm reduzindo cada vez mais a fertilidade e as características naturais dos solos agricultáveis, pois não considera suas relações físicas, ecológicas e biológicas, transformando-o em áreas compactadas, inférteis e sem o controle natural das chamadas “pragas”. Esse tipo de agricultura tem levado o Brasil, desde 2008, a ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo, conseguindo alcançar uma média de mais de 7 litros de veneno por habitante. E este é o modelo que acaba causando a morte e envenenamento das terras, das águas, dos animais e das pessoas.
Preocupados com esta situação e buscando alternativas para uma produção limpa, agricultores e agricultoras familiares da Comunidade de Pedra da Onça, em Remanso, Bahia, participaram de uma oficina sobre produção agroecológica, realizada no dia 5 de agosto. A atividade contou com o apoio de Francivelton de Sousa e Lourivaldo Santos, estudantes da Escola Família Agrícola da Serra da Capivara, que estão realizando estágio no SASOP, e da Associação de Fundo de Pasto dos Pequenos Produtores e Apicultores da Comunidade Pedra da Onça.
Durante a ocasião foram realizadas práticas de compostagem, biofertilizante e inseticida natural à base de Neem, uma planta medicinal que possui efeitos no controle de insetos, vermes e na cochonilha da Palma. Esse, inclusive, foi um dos principais problemas apontados pelos participantes da oficina, que relataram já ter perdido toda a plantação de Palma, planta importante para alimentação dos rebanhos durante o período de estiagem, por conta deste inseto.
A formação trouxe ainda um debate sobre o tema da nutrição de plantas, através da lei do mínimo, o qual considera que a falta de um elemento ou nutriente essencial para o desenvolvimento, seja ele macro (N, P, K, Mg, Ca, S) ou micro (Mn, Zn, Fe, Cu, B, Mo) nutriente, é capaz de limitar o desenvolvimento e/ou produção da planta. Daí a importância em se fortalecer as relações naturais dos solos. O material utilizado para realização das práticas foi adquirido no próprio local, a exemplo do esterco de vaca, do leite, das cascas de ovos, das cinzas, da rapadura, das folhas de gliricídea e leucena, palha e capim. Com os materiais em mãos, pode-se trabalhar a decomposição de foma aeróbica (com presença de oxigênio), por meio da compostagem, e de forma anaeróbica (sem a presença de oxigênio), pelo biofertilizante.
Com estes processos pode-se facilitar a decomposição e criar um ambiente propício ao desenvolvimento dos microrganismos, que trabalharão para transformar o material em minerais e nutrientes, para serem absorvidos de forma direta pelo solo e pelas plantas e, assim, obter uma produção saudável, sem grandes custos e sem a dependência de insumos de fora da propriedade. A formação demonstrou que, na Agroecologia, a natureza está à favor da produção dos alimentos e que não é preciso queimar, destruir ou utilizar adubos industrializados, vendidos pelo mercado, que favorecem apenas ao lucro dos empresários e a perda da fertilidade dos solos, comprometendo as áreas de plantio na comunidade Pedra da Onça.
Texto e Fotos: Diego Souza / SASOP