GRILAGEM | Carta das Comunidades de Angico dos Dias e comunidades da região

GRILAGEM | Carta das Comunidades de Angico dos Dias e comunidades da região

 

Relatam os mais velhos, que desde 1812 com a chegada dos primeiros moradores em nossas comunidades, sobreviviam do cultivo da terra, da criação de animais e do extrativismo. Constituíram suas famílias e esse modo de vida se perpetua até os dias atuais, tendo como características principais o uso de áreas coletivas, hoje denominadas como fundo de pasto. Tal modo de vida, defendido pela própria Constituição Federal, vem sendo ameaçado com a chegada da empresa GALVANI, desde os anos 90, quando se deu sua instalação para a lavra de fosfato (instalação da estrutura, lavra etc).  

Essa presença tem trazido inúmeras perdas para as comunidades que formam o nosso território, tanto na produção agrícola como na criação de animais, chegando a perda de 8.000 cabeças de caprinos no  período de dois anos, desde sua instalação, e principalmente a perda da saúde física, emocional e psicológica dos moradores. Muitas pessoas são obrigadas a deixar de morar em Angico dos Dias, por orientação médica, para continuar vivendo.

– A empresa GALVANE/YARA, vem  há mais de dez anos poluindo o ar que respiramos, pois, a empresa está instalda distancia mínima de 200 metros de nossas comunidades.

 – Tem medidores de poluentes na comunidade, mas os mesmos são desligados para fraudar os resultados.

– A situação da lagoa da comunidade é caso de calamidade pública, pois, é o único meio de sobrevivência das pessoas e dos animais das comunidades que tem se tornado depósito de rejeito. Nem as pessoas nem os animais conseguem ter acesso à água com tanto rejeito. Óleo, produtos químicos, sujeiras de esgotos e o mais grave, fecharam os acessos das vertentes de onde vinham toda a água para encher a lagoa, não tendo mais  como reservar água para as pessoas e os animais.

– As pessoas que tem suas áreas próximo a empresa Galvane/Yara são obrigadas a abandonar, devido a quantidade de poeira que ela produz, vinte e quatro horas por dia, sem parar, além de prejudicar as áreas próximas fazendo pilhas de rejeito.

– A empresa tomou vários acessos das roças dos lavradores, cercando os acesso às área dos trabalhadores/as deste povoado.

– Aconteceram, várias vezes, detonação de explosivos dentro da empresa,  danificando varias casas e cisternas dos moradores. Os responsáveis pela empresa enganaram o pessoal da localidade com mentiras dizendo que iriam consertar as mesmas, mas nada foi resolvido ate o momento.

– O único meio de água potável em nossa comunidade é através das cisternas, mas desde quando a empresa começou seu processo de mineração, as pessoas da comunidade vem consumindo mais pó (poeira). Na comunidade, os telhados das casas ficam sempre sobrecarregados de tanto pó e essas se acumulam nas cisternas, 

– Os animais que entram na empresa são presos pelos funcionários e sendo transportados para outras regiões. Os moradores da comunidade dependem da criação para manter suas famílias.

 – Além de todos os prejuízos causados com a instalação da empresa, fala-se da construção de uma Barragem de rejeito que, caso seja construída, poderá inviabilizar o modo de vida de diversas comunidades do município de Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, chegando a poluir o Rio São Francisco.

– Por nossa região ser rica em bens naturais, conservados pelos povos dessas  comunidades tradicionais de fundo de pasto, as terras estão sendo ameaçadas devido a grilagem cartorial dos territórios aonde estão essas comunidades. São mais de 100 mil hectares com documentos falsificados. Visto que as comunidades não deram e nem venderam as suas áreas, pois reconhecem que terra é para gerar vida e não para negociar.

Diante do exposto, as comunidades que estão sendo prejudicadas por terem seus direitos violados e seu modo de vida ameaçado, vem requerer desta casa o apoio e a intervenção junto aos poderes constituídos no sentido de garantir o direito assegurado pela Lei Municipal, Estadual ,Federal e Internacional que protege o direito das pessoas viverem com dignidade em seus territórios sem perder suas tradições e seu modo de viver.

Angico dos Dias, 20 de setembro de 2018

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