Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
Cestas agroecológicas beneficiam 600 famílias do Baixo Sul
O mês de maio foi marcado pela campanha de distribuição de cestas de alimentos de kits de higiene para comunidades em situação de vulnerabilidade social no território Baixo Sul da Bahia. Capitaneada pela Rede Agroecológica do Baixo Sul, a ação alcançou 600 famílias da região, em duas etapas, do dia 15 ao dia 18, e de 28 a 30 do mês. A Rede é animada pelo Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais – SASOP; e formada também pela FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional; pela Unisol Bahia – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários; e pela Agência de Desenvolvimento Sustentável e Comercialização da Agricultura Familiar – Adscaf, além de diversos grupos e associações comunitárias.
A ação foi pensada para mitigar os efeitos da crise ocasionada pela pandemia de coronavírus e contou com financiamento da Fundação Banco do Brasil (FBB). Além de promover a segurança alimentar e nutricional daqueles que recebem as cestas, a campanha beneficiou também mais de 100 famílias agricultoras responsáveis por fornecer cerca de 60% dos produtos distribuídos. O trabalho contemplou comunidades nos municípios de Camamu, Ituberá, Teolândia, Presidente Tancredo Neves, Mutuípe e São Miguel Matas.
O SASOP, a FASE e a ADSCAF foram responsáveis pela aquisição dos produtos, montagem e distribuição de 1.200 cestas ao todo, duas por cada família. Cada uma delas continha 6 kg de arroz e de feijão e 10 kg de produtos da agricultura familiar local, entre frutas, tubérculos e hortaliças, farinha de mandioca, e um kit de produtos beneficiados (como beijus e biscoitos). Desses, apenas os dois primeiros foram adquiridos no mercado convencional. Todo o restante foi comprado diretamente das famílias produtoras rurais, numa estrutura que se assemelha ao Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA) e serve para lembrar como políticas estruturantes como esta são importantes.
“O mais importante dessa ação é que ela promove uma dinamização do próprio mercado local, já que precisamos complementar a cesta com itens que não são produzidos na região, como arroz e feijão”, observa Cibele Oliveira , técnica do SASOP, ao apontar para a importância da geração de renda num momento de crise.
Para Cibele, a mobilização foi ainda mais desafiadora por conta do isolamento social. “Pensar os arranjos de trabalho nessa situação foi uma grande experiência coletiva, especialmente por se tratar de uma ação emergencial. A movimentação inicial, por exemplo, começou por aplicativo de mensagem, pelo celular, e no fim das contas conquistamos R$ 124 mil para atender as famílias. É muito gratificante” reflete Cibele.
Para Manoel Sales, Diretor da ADSCAF, o trabalho foi grande, por ser uma ação muito pulverizada, mas valeu a pena. Somente a sua instituição atuou junto a 15 comunidades de agricultores, com 36 unidades familiares produzindo e cerca de 150 agricultores envolvidos. As 200 famílias que receberam o auxílio representam 1.108 pessoas. “Tivemos bastante gente envolvida para ajudar no processo, o que por si só já é uma alegria, e alcançamos números expressivos para um recurso que não é tão grande, considerado o tamanho da ação, mas que foi muito bem otimizado”, avalia.
Rosélia Melo, coordenadora da FASE Bahia, destaca que apoiar uma ação como essa fortalece a missão das organizações sociais e, para a FASE em especial, reafirma o trabalho enquanto uma organização de educação popular e defesa de direitos. Para ela, está claro, dada a atual conjuntura atual, que a efetivação de ações como esta é uma das principais armas para o enfrentamento da pandemia
Rosélia ressalta ainda que uma questão muito forte deste projeto, além de condizer com todos os princípios da agroecologia, é a incidência política que ele promove no campo das ações humanitárias. “Através dessa ação a gente incide politicamente junto aos públicos beneficiados de forma direta e indireta, mas também consolidamos essa rede solidária que é a Rede Agroecológica do Baixo Sul. É uma forma de fortalecermos politicamente o território”, aponta.
Cibele conta que sempre atuou na gestão, acompanhando a execução do PAA, enquanto política, mas com essa campanha ela pode dizer que aprendeu “a fazer PAA na prática”. A comparação se refere à possibilidade de fazer a ponte entre produtores de unidades agrícolas familiares e consumidores que necessitam de garantias alimentares e nutricionais, uma conexão que nem sempre é possível.
Para ela, não apenas os beneficiários diretos do projeto ganham com a realização da campanha, mas as próprias organizações saem fortalecidas do processo. “As trocas com os colegas, o diálogo com as associações, com agricultores, com as instituições e redes de assistência que intermediaram o recebimento das cestas, tudo nesse projeto reenergiza a própria Rede Agroecologia do Baixo Sul e equipe SASOP”, comemora.