A ATER pública é uma catalizadora de processos de desenvolvimento rural sustentável, focados na expansão e fortalecimento da agricultura familiar, na superação da pobreza rural e na distribuição de riquezas. É o principal vetor de integração das políticas públicas nos territórios rurais.
Mas esta qualidade institucional ainda não está sendo suficientemente utilizada no combate à pandemia. Em algumas comunidades rurais, especialmente nas mais pobres e isoladas, a ação do(a) extensionista é uma das poucas ações públicas que interagem com a população. Como alguns municípios rurais estão apresentando problemas na execução da vacinação, a tarefa de mobilização da população poderia ser assumida, de forma complementar aos agentes de saúde, pelas equipes de ATER. Uma forma de ampliar a capacidade do setor público em transmitir as informações necessárias sobre a pandemia, sem diminuir o papel estratégico dos agentes de saúde neste processo. Um bom incentivo seria a inclusão do(a)s técnico(a)s que vão efetivamente estar envolvido(a)s nos trabalhos de campo necessários para a realização desta tarefa na lista de público prioritário para a vacinação.
Além da dimensão da saúde pública, esta ação permitiria um retorno mais rápido das ações de campo de apoio à produção de alimentos saudáveis pela agricultura familiar. É urgente a retomada das ações de apoio à produção e à comercialização das famílias. E a maioria do(a)s extensionistas de campo está em isolamento social, como forma de evitar a contaminação.
Outra ação, decorrente da crise econômica e da necessidade de enfrentar o retorno da fome, seria implantar programas de capacitação em segurança alimentar e nutricional, que incorporassem, inclusive, plantas alimentares não convencionais – pancs – e plantas com princípios fitoterápicos, aos quintais produtivos. É necessário destacar que as plantas medicinais não se inserem em nenhuma estratégia de “tratamento precoce” da COVID. Esta ação deveria dar prioridade, mas não exclusividade, às comunidades em situação de vulnerabilidade social, em especial às mulheres e à juventude rural.
Este é um aspecto importante, pois a POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) 2017-2018, do IBGE, demonstra que, no país, o percentual de domicílios em situação de segurança alimentar é de 66,8% quando a pessoa de referência é um homem e de 58,5% quando é uma mulher. Os domicílios com Insegurança Alimentar moderada ou grave são 9,3%, onde a referência é masculina e 15,3%, onde é feminina. Além disso, no tocante à faixa etária, 5,1% da população de 0 a 4 anos de idade e 7,3% da população de 5 a 17 anos conviviam com Insegurança Alimentar grave.
Além de contribuir para o enfrentamento da pandemia no meio rural, estas ações darão visibilidade à importância dos serviços de ATER para o bem-estar das famílias e para o desenvolvimento rural sustentável da região.