Neste 27 de maio, Dia da Mata Atlântica, não há o que celebrar. Dos 17 estados que comportam algum resquício da mata nativa, apenas dois registraram queda do desflorestamento. Nos demais, o aumento aconteceu mesmo em locais que pareciam ter zerado o desmatamento em medições anteriores, segundo os dados mais recentes levantados pela Fundação SOS Mata Atlântica, referentes ao período 2020-2021, em estudo realizado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e lançado na quarta-feira, 25 de maio.
O desmatamento do bioma segue crescendo, com aumento de 66% no último ano e 90% maior do que foi entre 2017 e 2018. A Bahia ocupou o segundo lugar neste triste ranking, com quase 5 mil hectares de mata derrubados, atrás apenas de Minas Gerais, onde a devastação passou dos 9 mil hectares. Juntos, os cinco maiores destruidores da Mata somam 89% de todo o prejuízo, que no total chegou a 21.642 hectares (o equivalente a mais de 20 mil campos de futebol) – numa área já bastante degradada.
A iniciativa de criação de uma data para comemorar um dos maiores biomas brasileiros nada tem de romantismo ou ufanismo ecológico: foi pela urgência de preservação que se decidiu marcar o calendário com seu nome, a fim de chamar a atenção para a extrema necessidade de cuidados e de intervenção regeneradora na Mata. A condição atual da Mata Atlântica é alarmante: apenas 12,4% de seu território original ainda persiste, sob ataque sistemático de um modo de vida (se é que se pode chamar assim algo que é contra a vida) devastador, ganancioso e irresponsável.
Essa perda de ambiente natural, que afeta todo o país, mantém o bioma em um alto grau de ameaça e impacta diretamente a sociedade, uma vez que mais de 70% da população brasileira habita essa região e cerca de 80% de sua produção econômica se dá nesses locais. Além disso, 60% de todos os animais em extinção no Brasil dependem do pouco que resta para a sua sobrevivência. Sem a mata para garantir os processos de vida e a saúde da população, a tendência é o aumento de doenças, da falta de comida e água, e mesmo de energia elétrica, que tem no Brasil a matriz hidrológica como principal fonte.
A perda vegetal representa ainda a emissão de 10,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, o que marcha no caminho oposto à meta imperativa de redução do aquecimento global nos próximos anos, a fim de frear a hecatombe climática. E as conferências e tratados internacionais que são referência no assunto apontam a Mata Atlântica como um dos biomas fundamentais para a promoção do equilíbrio climático do planeta, mas que para isso é preciso restaurá-lo com urgência.
É lugar comum apontar a urbanização e a industrialização com os principais vilões do desmatamento, mas, embora essas tenham a sua parcela de contribuição para o problema, sobretudo por conta da grande especulação imobiliária que se dá nas faixas de litoral, é a derrubada para a criação de pastagens e monoculturas agrícolas que tem sido a maior causa da destruição. No entanto, é preciso observar a responsabilidade maior da falta de políticas públicas eficientes e da presença e atuação do Estado, para garantir a preservação do que se mantém intacto; reeducação das populações, inclusive sobre as formas de enxergar e se relacionar com a Mata; e especialmente nas ações de reflorestamento, com incentivo a formas de produção agroecológicas, que permitem a dinamização econômica com a floresta de pé.
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