A experiência da Associação de Técnicos em Agropecuária e Apoiadores da Agricultura Familiar no Estado da Bahia (ATAF) no território Sertão do São Francisco
A ATAF atua junto a agricultores e agricultoras familiares do semiárido baiano. Por meio de ações socioculturais e educacionais, a ATAF luta pela garantia e manutenção de direitos e a defesa do meio ambiente com ativa participação das juventudes locais
O que as juventudes organizadas são capazes de fazer?
Entre os anos de 2015 e 2016, uma angústia rondava um grupo de jovens estudantes da Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE), no município de Monte Santo, na Bahia: como poderiam seguir se organizando e atuando social e politicamente, após o término dos estudos? Os quatro anos de Educação Contextualizada na EFASE trouxeram a consciência da necessidade de fortalecer a Agricultura Familiar da região e, de certa forma, darem retorno a seus municípios dos conhecimentos adquiridos.
Foi assim que um grupo de alunos do território Sertão do São Francisco, especialmente dos municípios de Remanso, Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova e Pilão Arcado, começou a se articular com outros apoiadores da agricultura familiar na região para o desenvolvimento de atividades de incidência social, cultural e política naqueles municípios. A atuação junto a agricultores e agricultoras familiares do semiárido baiano, capacitando-os para o exercício da cidadania e a intervenção qualificada nos espaços de decisão, controle e efetivação de políticas públicas, utilizando como estratégia a Agroecologia, culminou na fundação da ATAF – Associação de Técnicos e Apoiadores da Agricultura Familiar, ainda no ano de 2016.
Sua atuação vem se tornando notória desde 2019 com a realização de feiras agroecológicas, por meio de convênio celebrado com o governo do estado, que inauguram canais de comercialização para os pequenos produtores rurais locais. Em 2020, as feiras foram suspensas pela pandemia, e finalmente retomadas em 2022, com a reabertura dos eventos públicos. O empenho desses e dessas jovens também foi fundamental para garantir o acesso dos agricultores familiares aos mercados institucionais do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) naqueles municípios. “Como resultado, alguns jovens também puderam comercializar por meio desses canais. Além da estruturação de meios para o comércio e incentivo à produção agroecológica na região, as feiras especialmente permitiram às juventudes perceber o seu potencial realizador dentro das comunidades”, conta Marcos Amâncio, jovem técnico agrícola formado pela EFASE e sócio-fundador da ATAF.
São os e as jovens, portanto, o principal ativo dessa mobilização, que luta pela garantia e manutenção de direitos, a defesa do meio ambiente e a participação popular em espaços de discussão, inserindo novas juventudes nesse processo, em diálogo permanente com estudantes em diversas EFAs. Alguns desses que atuam pela ATAF hoje já haviam participado de atividades voltadas para juventudes junto às organizações sociais e movimentos presentes no território e trouxeram daí uma primeira experiência de diálogo e participação popular na incidência política. As formações em participação política, agroecologia, comunicação e relações de gênero foram fundamentais para que eles possam hoje tocar os processos com autonomia e protagonismo.
Outra jovem técnica agrícola e também sócia-fundadora da ATAF, Cinthia Araújo, conta que o SASOP, por exemplo, foi um dos norteadores para a fundação da associação. “As assembleias eram feitas no escritório do SASOP, depois começamos a alternar com momentos nas comunidades de origem dos jovens”, lembra, mas acha importante observar que a iniciativa sempre foi dos jovens e os parceiros chegavam para fortalecer aquela construção. “Buscávamos a integração de juventudes de diversos locais nesses momentos. Era a hora de apresentar a ATAF e também destacar os jovens ali presentes, com atividades de incentivo à participação”, relata. Assim começa a busca por outros e outras jovens para conhecerem e virem a integrar a associação.
Com a articulação pelo acesso aos dois programas públicos de acesso a mercados, as juventudes puderam compreender que resultados concretos só seriam alcançados por meio de pressão e diálogo constante com o poder público, e assim fizeram. “Parecia não haver brechas na burocracia municipal e foi com muita insistência que foi possível demonstrar que a juventude não desistiria da luta até conquistar seus direitos. A luta é importante para mostrar a força da sociedade organizada e foi crucial para evitar a insistência em processos burocráticos que só dificultam o acesso a esses direitos”, defende Cinthia.
Consciência, formação e incidência política
Esses mesmos jovens têm se organizado na forma do Consórcio de Juventudes no Semiárido Baiano, reunidos a grupos de diversos territórios, que tem como objetivo apoiar e fortalecer sua incidência política. A integração com a ATAF agrega sua experiência na mobilização e articulação, bem como nas questões de agroecologia e convivência com o semiárido. No período das eleições, em 2020, os jovens construíram uma carta para dialogar com os candidatos dos pleitos municipais a partir de suas demandas e visão sobre a gestão pública. A ideia foi retomada em 2022, para os pleitos estaduais e o nacional.
A formação para a conscientização política é fundamental em todo esse processo, buscando sempre a autonomia e o protagonismo dos jovens em suas comunidades. É por isso que fundar uma EFA mais próxima de seus municípios é hoje o principal objetivo dos grupos que compõem a ATAF no diálogo junto ao poder público. “A ampliação da participação das juventudes nos processos formativos é o que forma a base de ação nos territórios e ensina aos jovens que a participação dentro das comunidades é tão importante quanto nos outros outros espaços de discussão”, atenta Amâncio.
“Pretendemos continuar no viés do assessoramento, por mais canais de comercialização da agricultura familiar e protagonismo das juventudes, bem como trabalhar os mercados com as juventudes que estão nas comunidades”, explana Cinthia. Ela destaca também a necessidade de dar continuidade à ampliação da participação de jovens em processos formativos, “que é o que forma a base de ação nos territórios”. Para seguir fortalecendo e ampliando o trabalho da ATAF, é importante buscar mais jovens e apoiadores que levantem as mesmas bandeiras de luta por um Semiárido forte e diverso. “É muito importante contar com a parceria das organizações, outras associações, sindicatos e grupos locais que apoiam e incentivam nossa ação, mas temos que ter em mente que este é um trabalho de juventudes, com as juventudes e para as juventudes”, arremata.