Cultivando Futuros Agroecológicos em Remanso

Mobilização da sociedade civil em Remanso visa estabelecer bases para uma transição agroecológica justa e eficaz

O município de Remanso, localizado no Território Sertão do São Francisco, no norte da Bahia, recebeu nos meses de outubro e novembro de 2024 a pesquisa-ação do projeto “Cultivando Futuros: Transição Agroecológica Justa em Sistemas Alimentares do Semiárido Brasileiro”. O projeto, que conta com apoio da Pão para o Mundo e financiamento BMEL, realizou duas oficinas voltadas para a análise e planejamento participativo dos sistemas agroalimentares do território.

Com ampla participação de agricultores, representantes de movimentos sociais, gestores públicos e organizações locais, o projeto ajudou a traçar um panorama histórico das transformações no setor agrícola e alimentar do município, além de identificar desafios e oportunidades para uma transição agroecológica justa.

A primeira oficina, realizada em outubro, reuniu 65 participantes para a construção da linha do tempo dos sistemas agroalimentares da região. O encontro permitiu identificar as principais mudanças na produção de alimentos, no acesso a recursos naturais, na comercialização e nas políticas públicas que impactaram o território ao longo das décadas analisadas. Foram revisitados quatro períodos históricos: antes de 1989; de 1990 a 2000; de 2001 a 2010; e de 2011 a 2024.

A partir da sistematização das informações coletadas, os participantes puderam compreender os avanços e retrocessos no desenvolvimento rural, com destaque para a crescente adoção de práticas agroecológicas e o fortalecimento da agricultura familiar ao longo dos anos. Entre os avanços recentes, destacam-se:

  • Expansão da segurança hídrica, com novos poços artesianos e captação de água da chuva;
  • Fortalecimento da produção agroecológica, incluindo quintais produtivos e sementes crioulas;
  • Incentivo à comercialização por meio de feiras agroecológicas e frigoríficos especializados;
  • Ampliação das políticas públicas de apoio à agricultura familiar.

    Em novembro, foi realizado o II Fórum Multiatores, com a presença de 45 representantes da sociedade civil e do poder público. Durante a atividade, foram discutidas estratégias para fortalecer as redes territoriais de agroecologia e incidência política. Os debates foram organizados em torno de três eixos principais:
  • Fortalecimento das redes territoriais de agroecologia e ação coletiva;
  • Priorização de políticas públicas voltadas à agricultura familiar e ao acesso a alimentos saudáveis;
  • Construção de uma agenda política municipal que promova a sustentabilidade e a segurança alimentar.

Como resultado, foi elaborada uma síntese consolidada com propostas para subsidiar a implementação de novas ações voltadas ao desenvolvimento rural e à resiliência climática do Semiárido. 

O projeto “Cultivando Futuros” reafirma a importância do diálogo entre diferentes setores para garantir a soberania alimentar e a sustentabilidade no Semiárido. Ao unir conhecimentos técnicos, práticas tradicionais e articulação política, as comunidades de Remanso seguem fortalecendo a agroecologia como um caminho viável para a produção de alimentos saudáveis, a geração de renda e a preservação ambiental.

Remanso tem sua economia baseada na agricultura, pesca e pecuária, com destaque para a caprinovinocultura e a agroindústria familiar de produtos como mel, doces, polpas de frutas e conservas de peixe. O clima semiárido, marcado por chuvas irregulares e altas temperaturas, exige estratégias de convivência com a seca e adoção de tecnologias adaptadas, como cisternas e sistemas agroflorestais. Com os resultados desse processo participativo, espera-se que as propostas construídas coletivamente sirvam de base para futuras ações e políticas públicas que garantam uma transição agroecológica justa e eficaz para as comunidades rurais da região.

Confira a linha do tempo do desenvolvimento rural de Remanso

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