Projeto ATER BIOMAS promove diálogo sobre a importância e conservação de sementes crioulas

Nos dias 25 e 26 de fevereiro, as comunidades de Boa Esperança e Intendência, no município de Pilão Arcado-BA, foram palco de oficinas sobre a importância e os desafios da preservação das sementes crioulas. A iniciativa faz parte do projeto ATER Biomas, executado pelo SASOP, e reuniu agricultores e agricultoras locais para trocar experiências e discutir preocupações, especialmente sobre a contaminação das sementes tradicionais por transgenia.

Comunidade de Boa Esperança
Comunidade de Intendência

As sementes crioulas são um verdadeiro patrimônio genético, passado de geração em geração. Em Boa Esperança, há agricultores que, há mais de 20 anos, seguem o ciclo de colheita, consumo e armazenamento para garantir a continuidade dessas variedades. Seu Aristides da Silva, por exemplo, mantém essa prática há décadas, selecionando suas sementes com cuidado e conhecimento transmitido ao longo do tempo.

Durante a roda de conversa, Antônio Xavier, coordenador do projeto ATER Biomas, alertou sobre os riscos dos transgênicos e do uso de agrotóxicos, relacionando-os a diversas doenças, como o câncer. Ele reforçou a necessidade de autonomia dos agricultores na preservação das sementes crioulas e lançou uma provocação: “Quem cuida melhor da sua casa: o dono ou quem vem de fora?”

O risco da contaminação genética já é uma realidade para algumas comunidades. Relatos indicam que certas variedades cultivadas podem ter sido afetadas por transgênicos, comprometendo sua pureza. Além disso, agricultores e agricultoras apontaram mudanças no comportamento dos animais, que rejeitam alimentos à base de sementes transgênicas. Ivanildo Xavier destacou outra diferença marcante: o sabor. Para ele, o milho crioulo tem um gosto muito superior ao do transgênico, o que reforça ainda mais a necessidade de cultivar, preservar, multiplicar e disseminar sementes adaptadas.

Um dos momentos mais importantes da atividade foi a testagem de transgenia, quando os participantes trouxeram suas sementes de milho para análise. Seu Aristides teve a felicidade de ver suas sementes confirmadas como livres de contaminação. Para Dona Onilda Xavier, que acompanhou os testes pela primeira vez, essa ação é essencial para garantir o conhecimento e a preservação desse patrimônio.

O projeto ATER Biomas tem desempenhado um papel fundamental no fortalecimento da agroecologia e na conservação das sementes crioulas. Além de promover encontros como este, o projeto mapeia guardiões e guardiãs de sementes, incentivando práticas que garantam a perpetuação dessas variedades dentro das comunidades.

Na comunidade de Intendência, o cenário se repete. Seu Juraci Ribeiro conta que, por muito tempo, acreditou estar cultivando sementes crioulas, até perceber que muitas já estavam contaminadas. “Nunca nos preocupamos em garantir sementes puras, mas agora vejo que isso é essencial para nossa saúde, para a qualidade da produção e para nossa soberania alimentar”, refletiu. Francisca Naiara complementou que muitas variedades tradicionais desapareceram, principalmente devido ao fácil acesso às sementes comerciais. Para ela, a troca de sementes entre agricultores é uma estratégia essencial para manter a diversidade e evitar a perda desse conhecimento ancestral.

A preservação das sementes crioulas é um compromisso com a segurança alimentar e o fortalecimento da agroecologia. O manejo cuidadoso, a seleção criteriosa, o plantio em áreas isoladas para evitar contaminação, os testes de transgenia e germinação e o armazenamento adequado são medidas fundamentais para garantir a continuidade dessas sementes.

Diante dos desafios impostos pelos transgênicos e pelas mudanças climáticas, os agricultores reafirmaram seu compromisso com a produção de sementes crioulas e a disseminação de conhecimentos sobre sua importância. Preservar essas sementes não é apenas um ato de resistência, mas uma estratégia essencial para a autonomia dos agricultores e para a soberania alimentar das comunidades.

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