Agricultor se orgulha da variedade de frutas no quintal
A comunidade rural do Angico Torto fica a 110 quilômetros da sede de Pilão Arcado. Lá, moram Seu Domingos da Silva Lima e Dona Ana Miranda Lima, ambos com 61 anos de idade. O casal tem seis filhos, mas apenas um deles continua morando na mesma casa que os pais, o José Miranda Lima. Quatro foram para Brasília e outra filha mora na vizinhança. Da porta de casa já é possível ver um quintal bem diversificado, cheio de árvores frutíferas. É nesse quintal que, em 2011, foi construída a cisterna-calçadão, que armazena água da chuva para utilizarem na plantação e para os animais beberem.
A primeira cisterna que conquistaram, a de consumo humano, foi construída pela Paróquia. A segunda, que é a cisterna de produção, foi uma implementação do SASOP, por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). É ao redor da cisterna de produção que tem plantado laranja, mexerica, mamão, banana, manga, goiaba, abacate, cana de açúcar, limão, acerola, umbu, melancia, além de um canteiro com hortaliças. Mas, nem sempre, foi assim! Até o ano de 2011, o trabalho de Seu Domingos era mais com o roçado, que fica a uma hora de caminhada da casa. Ele lembra que saía as 4 horas da manhã e chegava na roça as 5 horas, com o dia ainda clareando. Voltava para almoçar, tomava um banho e seguia novamente até anoitecer.
Depois da construção da cisterna de produção, o casal começou a participar de atividades de formação e se animou para produzir alimentos em volta da casa e com mais diversidade. Eles aprenderam a fazer adubo orgânico e ração para os animais, sem colocar nenhum tipo de veneno nas plantas. Quando precisam espantar algum inseto, usam o sumo do nim, uma árvore que serve de defensivo natural. “Tem gente que recebe as coisas, tem oportunidade e não aproveita. Aqui a seca é grande, mas se pegar na enxada vai dar uns pé de coisa! Aqui eu ainda capino, tiro os matinho e vou aguando.”, afirma.
Seu Domingos afirma que hoje é muito raro comprar alguma fruta no mercado. Plantam também feijão e milho e criam bovinos, caprinos, galinhas e patos. Os animais bebem água de um barreiro que eles também construíram. Em casa, tem sempre uma reserva de semente de milho guardada. Seu Domingos, que está com problemas de coluna depois de um acidente, diz que antes produzia a ração dos animais, mas hoje solta eles na caatinga. A região de Angico Torto ainda possui muita caatinga preservada e, por isso, as famílias da comunidade criam seus animais soltos em áreas de Fundos de Pasto.
A maior dificuldade ainda é ter água suficiente para a criação. Com as estiagens cada vez mais longas, as aguadas que possuem não dão conta para todos os animais, principalmente, os bovinos que consomem muito mais água e alimentos que os caprinos e ovinos. A associação da comunidade possui um terreiro de raspa construído pela Paróquia e é onde os sócios colocam forragem para secar e dar de comer aos animais na época da estiagem.
Seu Domingos e Dona Ana sempre participaram do Sindicato e da Associação de Fundo de Pasto da comunidade. Há uns 8 anos ainda haviam grileiros querendo as terras de Fundo de Pasto da comunidade. Hoje, a principal ameaça é a implantação das torres de energia eólica. Seu Domingos diz que estão chegando torres de alta tensão, que deverão ocupar uma área grande da comunidade.