ERÊ NORDESTE I Carrossel de experiências agroecológicas em rede inspiram participantes do ERÊ Nordeste

ERÊ NORDESTE I Carrossel de experiências agroecológicas em rede inspiram participantes do ERÊ Nordeste

Experiências de agroecologia em rede, apoiadas pelo projeto Ecoforte,  na região Nordeste promoveram uma riqueza de debates entre os participantes do ERÊ Nordeste 2018. Para Luciano da Silveira, da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, o formato do carrossel de experiências mostrou a riqueza dos diferentes territórios do Nordeste e, ao mesmo, possibilitou perceber reflexões comuns. “Todas as iniciativas emergem na contracorrente de um modelo hegemônico. São experiências de Agroecologia em meio a grandes projetos, que fazem frente a mineração, ao agronegócio, as sementes transgênicas, são experiências de resistência. Mostraram como podem ganhar força quando apoiadas por um projeto como o Ecoforte”, afirma.

A vivência mostrou como as comunidades, quando articuladas e organizadas em seus territórios, tem conseguido gerir os bens comuns, como casas de sementes, áreas coletivas de Fundos de Pasto, gestão de feitas agroecológicas, unidades de beneficiamento e comercialização e produtos alimentícios. “Isso é o que permite construir a Agroecologia, a partir de formas auto-organização comunitária.”, reforça Luciano.

Ao todo, foram quatro experiências apresentadas: a Rede Sabor Natural do Sertão, do Estado da Bahia; a Rede de Agricultores Experimentadores do Araripe e a Rede Espaço Agroecológico, de Pernambuco; e a Rede de Intercâmbio de Sementes, no Ceará. As experiências trouxeram questões sobre a valorização dos sujeitos e emancipação política, sobretudo dos grupos de mulheres e jovens. Os debates abordaram ainda a importância da relação das organizações de agricultores e pescadores com as políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

A cooperativa Central da Caatinga é um exemplo dessa relação dos grupos produtivos da agricultura familiar com as políticas públicas. Gizeli Oliveira Santos conta que a cooperativa nasce justamente da necessidade da Rede Sabor Natural do Sertão comercializar seus produtos com mais qualidade para esses mercados (PAA e PNAE). “A Central da Caatinga, com apoio do projeto Ecoforte, nasce de uma rede de grupos formais e informais que estão em transição agroecológica e que buscam a preservação da caatinga e a comercialização dos seus produtos. São 20 grupos, somando um total de 400 famílias do campo e da cidade”, explica Gizele, colaboradora do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) que acompanha a experiência.

O Programa Ecoforte integra o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) e visa o fortalecimento e a ampliação de redes, cooperativas e organizações socioprodutivas e econômicas de agroecologia, extrativismo e produção orgânica. Agricultores familiares, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais e indígenas, bem como suas associações e cooperativas, são os principais beneficiários do programa. A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) está construindo uma sistematização dessas experiências agroecológicas em rede, apoiadas pelo primeiro edital do Ecoforte.

 

Conheça um pouco de cada experiência:

Rede Sabor Natural do Sertão – A Rede Sabor Natural do Sertão surge como um espaço de mobilização e formação das comunidades que vivem do bioma caatinga, em meio à hegemonia do agronegócio e da cultura irrigada. É resultado de comunidades envolvidas na luta pela terra, na busca da promoção de uma educação contextualizada. Com o acesso a políticas públicas de mercado, como o PAA e o PNAE, as organizações decidem criar uma cooperativa, com uma marca única, como forma de padronizar e fortalecer a identidade de seus produtos. Hoje, sua missão é contribuir com o desenvolvimento sustentável dos agricultores do Semiárido Brasileiro. São comercializados produtos orgânicos in natura, derivados da mandioca e de frutas e derivados animais, como o mel de abelha. “Importante lembrar que essa não é uma experiência simplesmente de comercialização. Trata-se de uma experiência de segurança alimentar, de transição agroecológica e de formação. Umas das estratégias de comercialização, inclusive, são as feiras agroecológicas”, ressalta Carlos Eduardo Leite, do núcleo executivo da ANA e coordenador do SASOP (Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais).                                                  

Rede de Intercambio de Sementes (RIS) – A RIS, assessorada pela Cáritas de Sobral, no estado do Ceará, foi fortalecida após apoio do projeto Ecoforte. A experiência recebeu prêmio de Tecnologia Social, da Fundação do Banco do Brasil, em 2007, e foi ganhando força com a construção de novas casas de sementes, por meio do Programa Sementes do Semiárido, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). “Em 2010, contabilizamos 29 casas de sementes. Em 2017, o número passou para 179 casas”, diz José Maria Gomes Vasconcelos, representante da Cáritas de Sobral responsável por acompanhar a rede. Para Vasconcelos, a RIS é definida como uma estratégia ambiental e econômica para a sustentabilidade, que busca a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias, por meio da transição agroecológica. São 45 entidades na rede entre sindicatos, cooperativas e grupos de mulheres. As casas já reúnem uma grande variedade de sementes, principalmente, de feijões. Do milho, já são seis tipos identificados e armazenados. A Festa da Colheita, de 2016, reuniu no território 6 municípios, 35 comunidades, 3.353 mulheres, 2.324 homens e 1.592 jovens.

Rede de Agricultores e Agricultoras Experimentadores/as do Araripe – A Rede foi apresentada pelo agricultor Vilmar Lermen, de Exu (PE), que mostrou o  território, as lutas e os desafios postos, como a questão do polo gesseiro enfrentada pelo Sertão do Araripe. Vilmar também abordou o histórico das lutas e resistências enquanto rede e explicou que os processos da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), através das formações e intercâmbios, desencadearam na formação da rede. A Rede de Agricultores/as Experimentadores/as está presente em onze municípios do Sertão do Araripe de Pernambuco.

Rede Espaço Agroecológico – A Rede, em Pernambuco, nasceu através de uma experiência pontual de comercialização, e hoje são espaços de alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos. Hoje, possui mais de 200 famílias, com 5 feiras agroecológicas. Um dos maiores desafios é chegar nas periferias da cidade do Recife. Para Davi Fantuzzi, assessor para comercialização do Centro Sabiá, ainda “precisa de políticas públicas para influenciar na cultura alimentar dos bairros periféricos. É só uma questão de prática alimentar para a população da cidade consumir produtos agroecológicos".

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