Rede PENSSAN lança relatório da pesquisa sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da covid-19 no Brasil e campanha “Olhe para a fome”

A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), lançou no último dia 04 de abril, como parte do projeto VigiSAN, o Inquérito Nacional sobre  Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Realizada em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, entre 5 e 24 de dezembro de 2020, a pesquisa que deu origem ao Inquérito revela dados desalentadores: em meio à pandemia, mais da metade da população brasileira está nessa situação, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. E a insegurança alimentar grave afeta 9% da população – ou seja, 19 milhões de brasileiros estão passando fome.

É um cenário que não deixa dúvidas de que a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil. No período abrangido pelo trabalho, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos, o que corresponde a 55,2% dos domicílios nacionais – um aumento de 54% desde 2018 (36,7%). Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).

Os dados revelam que a fome retornou aos patamares de 2004 e que o retrocesso mais acentuado se deu nos últimos dois anos. Entre 2013 e 2018, segundo dados da PNAD e da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), a insegurança alimentar grave teve um crescimento de 8,0% ao ano. A partir daí, a aceleração foi ainda mais intensa: de 2018 a 2020, como mostra a pesquisa VigiSAN, o aumento da fome foi de 27,6%. Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.

Segundo o relatório, a crise econômica agravada pela pandemia está fazendo com que a insegurança alimentar se alastre inclusive entre os que não se encontram em condição de pobreza. Houve impacto da pandemia entre famílias que tinham renda estável, que provavelmente foram empurradas da segurança alimentar para a insegurança alimentar leve, dado que a insegurança alimentar moderada e grave desaparece por completo em domicílios com renda familiar mensal acima de um salário-mínimo per capita.

Se em tempos de Covid-19, no entanto, os desafios são maiores, sem uma resposta adequada dos governos em forma de políticas públicas, a fome vai persistir – e aumentar. Famílias que solicitaram e receberam parcelas do auxílio, por exemplo, conviviam com alta proporção de insegurança alimentar moderada ou grave (28%), o que enfatiza a grande vulnerabilidade desse grupo. O combate efetivo à fome na pandemia passa, então, por políticas de geração de emprego e renda, aliadas ao pagamento de auxílio emergencial.

A pesquisa desenvolvida pela Rede PENSSAN em parceria com a ActionAid, Fundação Friedrich Ebert-Brasil, Instituto Ibirapitanga e Oxfam Brasil, demonstra que a escalada da fome durante a pandemia não é de responsabilidade de um vírus, mas de escolhas políticas de negação e da ausência de medidas efetivas de proteção social. Para ter acesso ao conteúdo completo da pesquisa, acesse www.olheparaafome.com.br.

“PRECISAMOS OLHAR PARA A FOME, TODAS E TODOS NÓS. ESSE DESAFIO TAMBÉM É NOSSO”

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