Reconexão das Juventudes

Encontro Formativo propõe reconectar jovens do campo com atenção ao protagonismo juvenil e incidência política

Nos dias 21 e 22 de maio,  a cidade de Feira de Santana recebeu o encontro de retomada das ações coletivas do Consórcio das Juventudes, uma parceria entre organizações da sociedade civil para o trabalho com jovens do campo na Bahia. O Encontro Formativo, como é chamado, contou com retrospectiva da caminhada do consórcio, partilha de vivências, saberes e fazeres, momentos de formação e lançamentos das produções do projeto, tudo pensado especialmente na perspectiva da reconexão das potencialidades das juventudes.

“Esse encontro foi um anseio de retomada ao modo presencial, tendo em vista que já estávamos há dois anos realizando atividades em modo virtual e precisávamos desse momento de reconexão com as juventudes para pensar, construir, dialogar e refletir, principalmente sobre os processos de incidência política, considerando que estamos em ano eleitoral”, assinala Vaninha Cunha, Educadora popular do MOC e monitora do Consórcio das Juventudes. 

Ela explica que, além de poder conhecer melhor cada jovem, suas origens e narrativas sobre seu território e seus fazeres, foi também um momento importante para a apropriação das construções pelos jovens, com direito a remontar o histórico de atividades, com desenho de linha do tempo desde o início, em 2019. “ Poder ouvir outros jovens envolvidos desde a formação do projeto falarem sobre a diferença que fez e faz lutar por permanência no campo é muito significativo para nós, principalmente para quem já fez o movimento de migrar para grandes centros”, aponta Sara Nidian, de 26 anos, da Fazenda Santa Rosa, em Conceição do Coité.

Esse é o primeiro de três encontros que acontecem neste ano, como proposta das ações coletivas do consórcio, com propósito de incentivar as lutas dos próprios jovens pelos seus direitos e a transformação de suas realidades. “Foram dois dias de muitas trocas que ainda estão sendo assimiladas e absorvidas. Com certeza as conexões, as teias estabelecidas nesses dois dias serão fortalecidas e irão reverberar em mudanças lá nas bases”, acredita Sara.

Junto com a integração, o trabalho discutiu questões das identidades das juventudes, perpassada pelas discussões de território, gênero e raça, e fez um aprofundamento da leitura da Carta Política das Juventudes, pensando nas realidades de cada região e sua aplicação prática neste ano eleitoral. “Avaliamos e mapeamos os espaços que os jovens e as jovens têm ocupado do ponto de vista da participação social e incidência política nas suas localidades, como associação, sindicatos e conselhos, por exemplo”, conta Vaninha.

Os próximos encontros ainda não têm data definida e devem tratar de temas relacionados à Educação Contextualizada, com foco na Educomunicação, e ao Enfrentamento das Violências e Violações de Direitos, com foco na Cultura de Paz, sempre dentro da ideia do Protagonismo Juvenil. O último deles promete ser um encontro maior, com avaliação do ano e planejamento do próximo. “Desde o início das atividades a gente dialoga com as juventudes e construir junto com eles faz toda a diferença, por isso nosso Encontro Formativo foi um sucesso grande, e a gente sai com vontade de fazer, de multiplicar, de colocar a mão na massa e de nos encontrarmos novamente”, avalia a monitora. “A ideia é que esses conhecimentos cheguem na base e sirvam de motivação para outros jovens se engajarem nos processos de participação social”, conclui.

Lançamentos

O Consórcio das Juventudes do Semiárido lançou, durante o evento, a Cartilha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico. Um material leve e lúdico, mas muito necessário para disseminar essa importante questão nos diversos territórios de atuação das juventudes, com atesta a jovem Sara, para quem este foi um dos momentos marcantes. “É uma temática muito necessária para ser tratada nas comunidades, pensada com muita seriedade e  didática”, avalia.

Ciente do seu papel político na defesa dos direitos humanos e da construção de uma cultura de paz no semiárido, o Consórcio se soma, assim, à Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, realizada pela Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, e à luta histórica das mulheres para disseminar as sementes da justiça, da igualdade, da participação, da autonomia para uma sociedade livre de todas as formas de violação de direitos. 

Outro lançamento importante no Encontro Formativo foi o do Acervo do Livros Itinerário. Certo de que o livro é uma arma poderosa, para além da educação, na formação política e social dos indivíduos, o Consórcio garantiu um acervo que conta com obras exitosas para a formação de pensamento, criticidade e ampliação de conhecimentos sobre questões muito caras ao debate público atualmente. A proposta do acervo é potencializar ainda mais os saberes das juventudes, com obras de figuras ilustres como Chimamanda Ngozi Adichie, Itamar Vieira Junior, Djamila Ribeiro, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, dentre outros/as. “São questões urgentes e necessárias, e como o acervo vai circular entre os territórios, os livros poderão ser acessados por outros jovens que nem sempre podem estar presentes nos nossos encontros”.

Consórcio das Juventudes

O Consórcio das Juventudes do Semiárido é uma parceria entre a Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE), o Movimento de Organização Comunitária (MOC) e o Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), que somam um legado de experiências e expertises na luta por um semiárido mais justo e digno à vida. A iniciativa nasceu em 2019 com o objetivo de contribuir para que adolescentes, jovens e suas organizações exerçam seu direito à participação e incidam em prol da educação para o desenvolvimento sustentável em territórios do semiárido baiano. O Consórcio conta com o apoio da Aliança Brasil entre a Terre des Hommes Schweize a Terre des Hommes Suisse .

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