Plantas medicinais e remédios caseiros melhoram a saúde (2011)

FAMÍLIAS AGRICULTORAS RESGATAM O USO DAS PLANTAS MEDICINAIS E MELHORAM A SAÚDE

Há milhares de anos as pessoas recorreram às plantas para tratar doenças e amenizar dores e incômodos. As ervas utilizadas pelos povos antigos continuam a ser utilizados, mas, em muitas localidades, não tem a mesma valorização. As experimentações e práticas agroecológicas voltadas para a segurança alimentar e nutricional das famílias, no Baixo Sul da Bahia, tem reforçado entre os agricultores a necessidade de cuidar da saúde por meio do resgate da sabedoria popular sobre as plantas medicinais.

O trabalho com as plantas teve inicio com os agricultores familiares, sobretudo mulheres e jovens, das comunidades do Barroso, Pimenteira, Garcia, Marimbondo e Dandara, no município de Camamu-BA. Em cada comunidade houve um momento inicial de partilha dos conhecimentos e identificação das plantas medicinais encontradas no local, uso, plantio e forma de colheita. A partir daí foram realizados diversos encontros de trocas de experiências entre as comunidades, favorecendo trocas de receitas para o preparo de remédios e abrindo espaço para reflexões e debates sobre a saúde das famílias agricultoras.

Durante o trabalho, os agricultores reconheceram diversas plantas, ampliando conhecimentos sobre a diversidade local e promoção da saúde a partir das plantas.  Surgiu daí a necessidade de formação dos grupos para o preparo de remédios caseiros (xaropes, pomadas, sabão, tinturas) para atender as comunidades. Toda essa mobilização está contribuindo para melhorar a saúde, ampliar o conhecimento sobre as plantas estimular a produção e consumo de alimentos saudáveis e fortalecer os laços de solidariedade entre as famílias.

A agricultora Maria Andrelice conhece bem o valor das plantas medicinais. Quando chegou no Assentamento Dandara dos Palmares, em 1998, o índice de desnutrição e doenças em crianças era muito alto e foi com o conhecimento sobre as plantas que conseguiu melhorar a saúde dos meninos e meninas do assentamento. Del, como é conhecida, trabalhava na Pastoral da criança e aprendeu a preparar a multimistura e xaropes caseiros. “Com a assessoria do SASOP, fomos resgatando a sabedoria popular e um conhecimento que estava esquecido sobre as plantas.”, conta.

Del conta que, com a babosa, fazem pomada que serve para machucados. Utilizam muito erva cidreira, alumã, erva doce e outras hortaliças para fazer chás e xaropes. Seu Almerido, conhecido na comunidade como Seu Bel, é uma referência no trabalho com plantas medicinais. Junto com sua esposa, Dona Andrelita, prepara diversos remédios caseiros, como xaropes, pomadas, chás, infusões, remédios para verminose, coceira, machucados, reumatismo, dores em geral, gripe e coloca à disposição da comunidade para os primeiros socorros. Como ingredientes, Seu Bel usa mel, folhas produzidas em sua propriedade de forma agroecológica. O agricultor conta que o SASOP começou ensinando a não utilizarem queimadas, fazendo o manejo da terra. Depois, foi a vez da oficina sobre remédios caseiros. “Aprendi muita coisa. Fazemos “doutorzinho”, pomada feita com babosa e outras plantas, xarope da casca de banana, sabonete para coceira, remédios para dores e reumatismos, uso do barro. Toda a comunidade usa.”, revela.

Seu Bel diz que, depois de participar das oficinas, percebeu a importância do horário certo para colher as plantas e aproveitar melhor os princípios ativos. “Com o curso do uso do barro, aprendi a fazer panelas e utilizar como anti-inflamatório para alívio de dores, principalmente, na coluna”, diz.

Dona Delza, moradora da comunidade do Barroso, conta como se faz a “temperada”, bebida que as parteiras davam as mulheres paridas para evitar infecções e é utilizada até hoje. Para o preparo, utiliza folhas como alecrim, manjerona, arruda, água de alevante, artemísia, pimenta do reino, umburana, entre outras, e deixa em infusão com cachaça e mel. Junto com a temperada, a tradição é fazer o chamado “esfregão”, que é uma massagem com óleo de amêndoa na barriga da mulher, após o parto, que limpa e impede que se tenha inflamações.

Ana Célia, agricultora e presidente da associação da comunidade do Barroso, diz que o acesso ao atendimento médico é muito difícil na região, principalmente, na zona rural. Por isso, sempre utilizam as plantas medicinais para produzir remédios caseiros e utilizá-los nos primeiros socorros para casos de gripe, febre, cansaço, bronquite, dores em geral, reumatismo. Ana diz ainda que, depois do grupo das mulheres, as famílias passaram a valorizar mais o conhecimento sobre as plantas. “Depois que criamos o grupo das mulheres, passamos a cuidar mais das plantas de nossos quintais e, com isso, do cultivo das ervas medicinais. Aí fizemos um curso e montamos uma farmacinha para a comunidade, com rótulos e embalagens para identificar cada remédio. Utilizamos folhas como matruz, tançagem, artemísia, alecrim, água de alevante, carrapicho de agulha, manjericão, arruda, além de alimentos como beterraba e caroço de abóbora. Temos uma rezadeira aqui na comunidade e queremos continuar a resgatar essa sabedoria.”, finaliza a agricultora.

4 comentários

  1. Admiro muito este trabalho desenvolvido por vocês, espero que ele cada vez se fortaleça mais e mais …
    Parabéns à todos!
    Não percam o foco!
    Att
    Daisy

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